quinta-feira, 12 de maio de 2016

Valdrada

Acrylic painting on canvas, 60x50cm
LTR_CI_04_09


Os habitantes de Valdrada sabem que todos os seus atos são simultaneamente aquele ato e a sua imagem especular, que possui a especial dignidade das imagens, e essa consciência impede-os de abandonar-se ao acaso e ao esquecimento mesmo que por um único instante. Quando os amantes com os corpos nus rolam pele contra pele à procura da posição mais prazerosa ou quando os assassinos enfiam a faca nas veias escuras do pescoço e quanto mais a lâmina desliza entre os tendões mais o sangue escorre, o que importa não é tanto o acasalamento ou o degolamento mas o acasalamento e o degolamento de suas imagens límpidas e frias no espelho. 


The ancients built Valdrada on the shores of a lake, with houses all verandas one above the other, and high streets whose railed parapets look out over the water. Thus the traveller, arriving, sees two cities: one erect above the lake, and the other reflected, upside-down. Nothing exists or happens in the one Valdrada that the other Valdrada does not repeat, because the city was so constructed that its every point would be reflected in its mirror, and the Valdrada down in the water contains not only all the flutings and juttings of the facades that rise above the lake, but also the rooms' interiors with ceilings and floors, the perspective of the halls, the mirrors of the wardrobes.